Título original: The puppet boy of Warsaw
Tradutor: Ivar Panazzolo Júnior
Páginas: 400
Editora: Novo Conceito

Esta é a história de um casaco. Não, de um menino. Melhor, de uma guerra e seus resquícios. Vou explicar certinho: tudo começou no início de março de 1938, um ano no qual os judeus ainda podiam circular livremente por Varsóvia; o avô de Mika tinha acabado de ser promovido para professor universitário e, como comemoração, fez um casaco sob medida pra si. Quando a guerra atingiu Varsóvia e os alemães conquistaram a cidade, este casaco mostrou ter mais importância para a família de Mika do que pensavam. Com o tempo, os judeus foram perdendo seu espaço e não tendo mais direito a possuir suas lembranças, então o avô de Mika construiu bolsos internos no seu casaco para preservar coisas importantes como livros, fotografias, etc.
“Meu avô acrescentava bolsos e mais bolsos ao sobretudo. Certo dia, ele pensou em criar bolsos menores dentro dos maiores. Assim, mesmo que um bolso fosse revistado, eles não encontrariam aquelas camadas extras. Aos poucos, aquele casaco se tornou um imenso labirinto: este bolso era conectado com aquele, mas não com este aqui; aqui havia uma rota sem saída, e este outro levava da esquerda para a direita.”
Após a morte de seu avô, Mika herdou o casaco e, com ele, as lembranças. Em um bolso interno, começou a descobrir o mundo maravilhoso dos fantoches. Lá ele encontrou uma cabeça de papel machê com cabelos louros e lábios vermelhos e na despensa de sua casa, o local secreto do Vovô, encontrou mais fantoches, estes já prontos para a ação. Enquanto a situação para os judeus piorava, as doenças chegando e a esperança desaparecendo, Mika se envolveu cada vez mais com estes fantoches e trouxe um pouco de alegria para o gueto -local onde os judeus moravam- com o seu teatro. É claro que não é possível esquecer a guerra, mas afastar as mentes das crianças da situação terrível que estavam passando, ao menos por um tempinho, já era algo.
“A companhia dos fantoches nos ajudava a esquecer o mundo adulto por alguns momentos. Um mundo onde as pessoas criavam coisas feias, como um gueto para judeus. Um mundo que não conseguíamos entender.”
Em pouco tempo, todo o gueto já conhecia Mika, o menino dos fantoches, porém ele é abordado por um oficial alemão quando vai assistir a um concerto no gueto e sua vida é transformada para sempre.

Eu gosto muito de livros sobre a segunda guerra mundial, já li vários e esse conseguiu me surpreender. Mika é uma personagem fascinante, com os anseios de um garoto da idade, mas que, por causa da situação, vai se transformando rapidamente em um homem e sua inocência dá lugar à sede de vingança. Apesar de retratar um intervalo da história que foi difícil e cruel, a autora conseguiu escrever com a simplicidade e sutileza necessárias para que fosse uma leitura agradável e gostosa. 
"Conheci uma boa quantidade de homens e mulheres que, depois de uma noite de bebedeira, de maneira tímida ou com uma expressão ardente nos olhos, expunham um número azul tatuado em seus braços. Quanto a mim, não tinha nada para mostrar. Meus ferimentos foram entalhados diretamente no coração."
Além de Mika, várias outras personagens (que em uma primeira leitura considerei secundárias) também são interessantes e enriquecem este livro. Na verdade, percebi que Mika não é o protagonista desta história: é a guerra. O menino dos fantoches de Varsóvia aborda o antes, durante e depois de um período devastador e cruel, e transcende muitos livros do gênero, pois detalha as marcas que ficam não somente para as vítimas das potências do Eixo, mas também as que assombram os soldados da Alemanha (e os alemães em geral).

Não vou detalhar muito da história, pois o interessante deste tipo de leitura é degustar vagarosamente cada parágrafo que é lido e se surpreender com as informações que ali estão contidas. O livro é uma ficção, mas, além da imaginação da autora, lemos sobre sentimentos muito verdadeiros, e lugares também. O gueto, Treblinka, o levante, os monumentos... tudo é tão real quanto eu e você.

Como é possível perceber através do que já escrevi, esse livro me conquistou de uma forma que há muito tempo algum não fazia. Além de possuir uma boa história, é importante ressaltar que a sua formatação é muito boa: fonte, tamanho da letra e espaçamento adequados e, como é preferência de muitos leitores, as páginas são amareladas. Claro que a formatação não é tão importante quanto a história em si, mas ela consegue melhorar –e bastante– a qualidade de uma leitura.

Por fim, explicito que entrou na minha lista de favoritos e, é claro, que eu o recomendo.
"Sempre que você vir um casaco comum, pense no que pode existir em suas dobras, quais memórias podem estar escondidas em seus bolsos."
 


9 Comentários

  1. Que resenha fascinante! Nossa, senti o poder do livro antes de lê-lo!
    Sua resenha me encantou e agora pretendo comprar esse livro o quanto antes! Tenho uma quedinha por livros que se passam em tempos de guerra.

    Beijos,
    Blog Entretanto

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    1. Que bom que gostasse, Juliana! Também tenho uma quedinha por livros com esta temática. =)

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  2. Esse livro, ele é simplesmente ótimo! Eu comecei a ler e li boa parte, parei porque era emprestado e, bem.. algumas folhas simplesmente não estavam lá o_o Aí descobrimos que foi a irmã da minha amiga que andou arrancando algumas folhas pra fazer barquinhos de papel.. ~genious~
    Fiquei muito animada com teu comentário porque até agora poucas pessoas disseram que Fahrenheit 451 é bom :( Espero que eu goste! E sobre Laranja Mecânica, li o livro antes porque todo mundo dizia que WOW O FILME É MUITO FORTE! Daí no livro pude entender mais coisas (óbvio), agora estou me preparando psicologicamente pra assistir o filme.. Vamos ver no que vai dar!
    Estou te seguindo e aguardando novas postagens! :-)
    Beijos,

    www.artigo2.com.br

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  3. Eu já vi esse livro em muitos lugares, mas nunca parei para ler uma resenha. Agora que li a sua, posso dar os parabéns pois me despertou curiosidade. Não sabia que se tratava da Segunda Guerra, se eu soubesse já teria lido porque amo esse assunto. Sempre acabo me emocionando.
    Adorei o blog, estou seguindo!
    Beijos,
    Ana.

    http://our-constellations.blogspot.com.br/

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  4. Olá! Que livro encantador! Me apaixonei pela sua resenha, parece uma leitura fantástica! Adoro histórias que falam da Segunda Guerra.
    Beijo!
    http://booksmanybooks.blogspot.com.br/

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  5. Oii Alana!
    Tenho esse livro aqui em casa e lembro que quando chegou fiquei doida para ler. Acabou ficando para depois e tinha até esquecido dele. Gostei muuuito da sua resenha, me fez ficar doida para ler.
    Achei bacana a autora explorar a Guerra como personagem principal e mostrar um pouquinho dos sentimentos dos soldados também. Parece ser um livro emocionante.

    Beijo!
    http://www.pitadadecultura.com/

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  6. Oi Alana! Faz tempo que não passo aqui menina! Eu não li este livro ainda, mas como você, também gosto muito de livros passados na época da Guerra, o meu preferido é A menina que roubava livros, mas quem sabe depois de ler este ele também seja favorito.

    Bjos!! Cida
    Moonlight Books

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    1. Pois é, é que eu dei uma sumidinha mesmo... hehe.
      A leitura deste vale super a pena Cida! Mas A menina que roubava livros possui um lugar muito especial no meu coraçaõ, hehe. Acho que é o livro que mais gostei até hoje.

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  7. Oi Alana, boa tarde ^^
    Puxa, tempo que não passo aqui também. Dei uma sumida :S Mas vou tentar retornar aos poucos ^-^
    Amei sua resenha. Já tinha visto esse livro uma vez mas não dei muita atenção. Agora, ao ler sua resenha, vejo que se trata de uma daquelas histórias "delicadas" contadas de forma um tanto suave (ou pelo menos não tão impactante). Fiquei curiosa para saber mais sobre o menino e o casaco ^-^ Vai pra lista de futuras leituras, com certeza.
    Beijinhos, boas leituras e excelente 2015!!!

    Attraverso le Pagine - http://attraverso-le-pagine.blogspot.com.br/

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